Total de visualizações de página

sábado, 3 de dezembro de 2011

PHARMACIA POPULAR DE BANANAL SP

Pharmacia Popular, a farmácia mais antiga em funcionamento no Brasil: um acervo a ser salvo Autores: FRANCISCO, B. H. R.1, BELTRÃO, C. B. de A. N.2 1-Centro Brasileiro de Arqueologia (CBA) – secretario1@cbarqueol.org.br; 2-Centro Brasileiro de Arqueologia (CBA) – secretario2@cbarqueol.org.br Palavras-chave: farmacia, história, acervo Resumo: O trabalho pretende mostrar a importância da preservação do acervo da Pharmacia Popular, a mais antiga farmácia em funcionamento no Brasil. Alguns itens deste acervo são destacados como o formulário Chernovitz e as máquinas registradoras. Para a confecção do trabalho, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, através de livros, artigos e vários sites na Internet, além de visitas in loco na Pharmacia Popular. Abstract: The study aims to show the importance of preserving the collection of Pharmacia Popular, which is the oldest pharmacy still acting in Brazil. Some items in this collection are highlighted as the Chernovitz form and registers cash. For this work an intensive bibliographic research was carried out through books, articles and many web sites, as well as site visits to the Pharmacia Popular. 1. A História da Pharmacia Popular A Pharmacia Popular, situada na cidade de Bananal/SP, é a farmácia mais antiga do Brasil. Foi inaugurada em 1830, pelo boticário francês Tourin Domingos Monsier, o primeiro farmacêutico da cidade. Chamava-se Pharmacia Imperial até que Valeriano José da Costa, proprietário da Pharmacia em 1889, aconselhado por republicanos, trocou seu nome para Pharmacia Popular, com o fim da monarquia. Seu patrimônio – que preserva instrumentos originais, sais, tinturas e potes de porcelana francesa da época do Império – faz parte do primeiro acervo cultural farmacêutico, sob o patrocínio da Roche do Brasil, com o apoio do Conselho Federal de Farmácia e da Academia Nacional de Farmácia. A farmácia e respectivo prédio pertenceu a Balkeriano José da Costa e a sucessivos proprietários até chegar, em 1922, às mãos de Ernani Graça, bisavô do atual proprietário.
Plínio Graça, recém-falecido e pai do proprietário atual da farmácia, duas vezes prefeito de Bananal e uma vez vice-prefeito, conservou a fachada, a máquina registradora, a balança, as ânforas e os vidros com pós, raízes e pomadas, potes de porcelana francesa rotulados em latim e dourados a ouro, cristais, alambiques de cobre e outros instrumentos originais. Uma grade separa funcionários que atendem os clientes em balcões feitos em pinho de Riga, ornadas por ânforas de cristal francês, contendo água colorida com anilina. Ao alto, bem posicionado, o busto de Hipócrates. O chão é todo revestido com ladrilhos franceses e os bancos de madeira de lei são os mesmos em que muitos se sentaram para esperar o aviamento das receitas. É totalmente revestida de ladrilhos franceses. Foi reformada uma vez, no fim do século XIX, adquirindo traços neo-clássicos. Faz parte também do acervo da Pharmacia Popular o formulário de Chernoviz, publicado regularmente de 1830 a 1924, uma preciosidade da época dos boticários, que manipulavam ervas medicinais e fabricavam ungüentos e beberagens. Em suas 2.400 páginas, traz a descrição dos medicamentos, a posologia e o modo de preparo. A Pharmacia Popular recebeu um prêmio da Fundação Roberto Marinho, por ser a mais antiga farmácia ainda em funcionamento no Brasil. Em 2001, Plínio Graça, pai do atual proprietário, recebeu o certificado de “Defensor de Bens Culturais”, emitido pela Secretaria de Recuperação de Bens Culturais de São Paulo, pela preciosa contribuição restaurando e preservando o acervo da Pharmacia Popular. 2. O Acervo e sua Importância - Formulário Chernovitz Os manuais de medicina popular foram um tipo de produção literária sofisticada, frequentemente em forma de livros de grossos volumes, que expressava a ciência médica do Império a ser divulgada junto ao público leigo. Foram escritos pela autêntica elite médica - autores que, ou faziam parte da Academia Imperial de Medicina, ou tinham muito boas relações com as autoridades médicas e políticas do Império em geral. E, se essas obras representavam a legítima ciência da época, eram, igualmente, legítimos agentes de medicina popular, tamanha sua aceitação e difusão entre a população leiga que, através delas, pode diagnosticar e tratar de seus males. O Formulário Chernovitz foi escrito pelo médico polonês Pedro Luiz Napoleão Chernovitz - Piotr Czerniewicz (1812-1881), que viveu no Brasil entre 1840-1855, cujo empreendimento editorial o tornou famoso e reconhecido nos meios científico e leigo. Essa "bíblia da saúde" foi, durante muito tempo, o livro mais lido e consultado, resolvendo situações prementes, suavizando dores, desfazendo aflições domésticas, curando, de fato, males de toda sorte. Daí a sucessão de suas edições. O Formulário ou guia médico fazia jus a seu nome: dividido em várias seções, continha a descrição dos medicamentos, de suas propriedades e doses, além das moléstias em que deviam ser empregados. Mencionava também as plantas medicinais indígenas e as águas minerais do Brasil, bem como a arte de formular, ensinando a escolha das melhores fórmulas e indicando receitas úteis na economia doméstica. Todos os medicamentos de que a obra trata dividiam-se em 16 classes, cada uma com uma propriedade médica particular que, 'mais ou menos enérgica', encontrava-se em todas as substâncias. (Chernoviz, 1841). Ao lado dos medicamentos chamados 'officinaes' (xaropes, vinhos, extratos, tinturas, conservas, emplastos e unguentos), cujas fórmulas achavam-se nos códigos farmacêuticos sancionados pelas leis e vendidos já prontos nas boticas – e cujo prestígio variava em cada época – , os doentes também podiam dispor das receitas 'magistraes'. Estas últimas eram preparadas de acordo com as fórmulas de cada médico, segundo as necessidades específicas do paciente. O 'Chernoviz' distinguia, nas fórmulas, a 'base', isto é, o agente principal do medicamento que conteria o princípio ativo; o 'adjuvante', que serviria para aumentar as propriedades ou as virtudes da base; o 'corretivo', cuja finalidade era enfraquecer o sabor ou o cheiro, podendo também reduzir a atividade ou ação corrosiva; o 'excipiente', substância que serviria de veículo às outras três; por fim o 'intermédio', que servia para tornar o medicamento miscível em água ou outro excipiente. Assim, por exemplo, na Mistura Balsâmica de Fuller: Copaíba – 2 onças Gemas de ovo – n.2 Xarope de bálsamo de Tolu – 2 onças Vinho Branco – 6 onças A copaíba seria a base, o xarope, o corretivo, as gemas de ovo, o intermediário e o vinho branco, o excipiente. Em outra seção, eram descritas as formas farmacêuticas dos medicamentos, então classificados em "bálsamos, cataplasmas, cáusticos, clisteres, elixires, emplastos, emulsões, espíritos, extratos, sangrias, sanguessugas, sinapismos, vesicatórios e ventosas". Desse arsenal, o Formulário ou guia médico oferece informações técnicas, verdadeiras relíquias sobre as artes médicas da época. Folheando a seção, ficamos sabendo que os 'cataplasmas', em forma de papas, eram geralmente elaborados com farinha de linhaça, féculas de batata ou miolo de pão. Nos 'vesicatórios ou cáusticos', aplicados como emplastros ou cataplasmas em afecções gangrenosas ou mordedura de animais peçonhentos (visando produzir uma secreção serosa e empolar a pele), além de mostarda e trovisco, empregava-se frequentemente uma papa elaborada a partir da maceração de um pequeno inseto, a 'cantárida'. Noutra classificação, os medicamentos trazem referência à sua ação terapêutica. Destaque-se, neste caso, que até a vitória da concepção ontológica da doença, isto é, aquela que associa o ser 'doença' à ação de uma entidade específica, a medicina acadêmica tendia a conceber a doença como manifestação de múltiplas circunstâncias, de caráter externo (agentes físicos ou químicos) ou interno (constituição física, temperamento, idade, sexo, atividade ocupacional). Nesse caso, os terapêuticos eram de 21 tipos, conforme sua ação específica voltada a restabelecer a harmonia ou equilíbrio fisiológico. A ampla variedade de substâncias laxantes, catárticas ou drásticas – estas últimas as mais intensas – exigia destreza na arte de purgar, tão complexa e tão amplamente empregada quanto a de sangrar (Chernoviz, 1841). Essa classificação encontra-se na parte do formulário propriamente dito. Consiste na descrição, em ordem alfabética, de todas as substâncias então empregadas pela medicina acadêmica. Ao referir-se a cada medicamento, Chernoviz indicava sua sinonímia, a significação em francês, o nome botânico em latim, características físicas, propriedades, moléstias em que deviam ser empregadas, doses e pesos usuais, e riscos de eventuais associações. Uma seção, a princípio inusitada para um guia médico, mas que se coaduna perfeitamente com o ideal iluminista e civilizatório de que se investia a elite médica, intitulava-se "Receitas diversas". Reuniam-se, aqui, várias receitas 'úteis nas artes e economia doméstica', tais como: água de colônia, tintas de escrever, venenos para a destruição de animais daninhos etc. Eram fornecidas também as composições de diversas preparações vendidas como 'segredos': pomadas de tingir cabelos, água para tirar nódoas de tinta de escrever e coisas semelhantes. O Formulário ou guia médico também, ao que parece, não tinha um preço módico. O Almanaque Laemmert, de 1846, anunciava sua segunda edição 'aumentada e inteiramente reformada', de um volume encadernado, por seis mil-réis, ao passo que Os Lusíadas, o clássico de Camões, foi vendido no mesmo ano por quatro mil-réis, em dois volumes e com gravuras. - Máquinas Registradoras Entre os vários objetos do acervo da Pharmacia Popular, encontram-se duas máquinas registradoras, da marca National, provavelmente do final do século XIX ou início do séc. XX. Uma curiosidade com relação à invenção da máquina registradora: em uma viagem de barco, o americano James Ritty ficou fascinado com a máquina que contava os giros da hélice. Na hora imaginou que aquela técnica poderia resolver os problemas de controle de caixa em seu bar. Em 1879, criou uma máquina que media a quantidade de dinheiro que entrava e saía através de teclas representando quantias de dinheiro. Com a invenção, James abriu uma fábrica e encheu sua caixa registradora de dinheiro. Entre os milhares de documentos e objetos que compõem o acervo da Pharmacia Imperial, encontram-se potes de porcelana francesa rotulados em latim e dourados a ouro, balanças, pesos, alambiques e vários outros utensílios farmacêuticos.
3. Conclusão Em funcionamento desde 1830, a Pharmacia Popular é a mais antiga farmácia em funcionamento no Brasil. Por 181 anos, seu precioso acervo foi preservado e passado de geração em geração. Com a morte recente de Plínio Graça, o proprietário de farmacia de 1956 a 2011, este acervo corre o risco de ser totalmente dizimado, caso não seja urgentemente catalogado e tombado.
Fontes de Informação: - Estância Turística e Ecológica de Bananal: Terra dos Barões do Café/organizador Plínio Graça. – São Paulo: Noovha América, 2006. (Série conto, canto e encanto com a minha história...) - A Estrada dos Tropeiros. http://www.fazendadabarra.com/estrada-dos-tropeiros.html - Os Manuais de Medicina Popular de Chernoviz na Sociedade Imperial, por Maria Regina Cotrim Guimarães. http://www.historia.uff.br/cantareira/novacantareira/artigos/edicao5/manuais.pdf - Os Manuais de Medicina Popular do Império e as Doenças dos Escravos: o Exemplo do “Chernoviz”, por Maria Regina Cotrim Guimarães. http://www.scielo.br/pdf/rlpf/v11n4s0/v11n4s0a09.pdf - Abaixo-assinado online sobre o Tombamento do Acervo da Pharmacia Popular: http://www.abaixoassinado.org/assinaturas/abaixoassinado/7266

Nenhum comentário:

Postar um comentário