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sábado, 10 de dezembro de 2011

ARQUEOLOGIA PREVENTIVA E ARQUEOLOGIA INDUSTRIAL: ORIGENS DA INDÚSTRIA MINERADORA EM MINAS GERAIS

ARQUEOLOGIA PREVENTIVA E ARQUEOLOGIA INDUSTRIAL: ORIGENS DA INDÚSTRIA MINERADORA EM MINAS GERAIS Ronaldo André RODRIGUES DA SILVA Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) / Comitê Brasileiro para a Preservação do Patrimônio Industrial (TICCIH-Brasil) – ronaldoandre@gmail.com Palavras-chave: Arqueologia Preventiva, Arqueologia Industrial, Indústria Mineradora, Minas Gerais. Abstract Preventive Archaeology develops the interventions and recovery and rescue actions of sets built that allow an expansion of knowledge in relation to a given space. Along with the Industrial Archaeology, the works of Preventive Archaeology take a specific dimension capable of providing the (re)structuring and (re)cognition of industrial elements. These elements allow the development of economic activities in remote periods. Thus, this study determines a relationship between these "two" archaeologies so they can along the archeology of landscape, provide information for the construction of knowledge and the relevance and importance of specific economic sectors. As an example, the development of the set of techniques that permitted the methodological analysis of archaeological objects for understanding and reconstructing the spaces of the mining industry and its environs in Minas Gerais since its origins. Thus, the objective is the development of an interdisciplinary process that can reveal the fundamental importance of these archaeological collections for the global understanding of the history of geographic areas occupied for them. The techniques and methodology applied has a character to raise the knowledge of industrial, economic and social processes. As well as enable the development of a knowledge that is a knowledge axis about on the importance of this sector to economic and social development. Keywords: Preventive Archaeology, Industrial Archaeology, Mining Industry, Minas Gerais. 1. Arqueologia Preventiva e Arqueologia Industrial A capacidade de reutilização do sítio arqueológico, como espaço de reconstrução de uma realidade social particular, no caso, a da instalação de indústria siderúrgica, pode proporcionar, assim como no caso da Fábrica de Ferro de Iperó, exemplo de patrimônio, o desenvolvimento e resgate de uma memória social e industrial que permita entender as origens dos processos de industrialização estadual e nacional (Figura 01). Para Morais (2007), os aspectos metodológicos necessários ao desenvolvimento de um estudo de arqueologia preventiva estão determinados não somente pelos aspectos legais e marcos regulatórios. Eles estão complementados pela capacidade do empreendedor em desenvolver de maneira adequada a atividade arqueológica, tendo como uma de suas preocupações principais as análises ambientais que permitam monitorar, prever, ou minimizar, os seus impactos negativos. Já os movimentos de construção da arqueologia industrial estão intimamente ligados aos processos de promoção e conservação, inventário, documentação, investigação e valorização do patrimônio industrial. Além destas formas, têm-se também o fomento ao ensino destes aspectos, com o objetivo de suscitar nas pessoas e nas organizações a importância e revalorização do patrimônio industrial, suas implicações nos processos de vida do homem e de construção do atual estado da sociedade. (Bergeron, 1995). Define-se, conforme acima, a arqueologia industrial como sendo um método interdisciplinar para o estudo de toda evidência, material ou imaterial, de documentos, artefatos, estratigrafia e estruturas, assentamentos humanos e terrenos naturais e urbanos, criados por processos industriais ou para eles. A arqueologia industrial faz uso dos métodos de pesquisa mais adequados para fazer entender melhor o passado e o presente industrial. (TICCIH, 2003) Dessa maneira, tem-se uma confluência de princípios em que as linhas de pesquisa denominadas arqueologia da paisagem ou arqueologia da arquitetura podem contribuir ao desenvolvimento de atividades arqueológicas em sítios que necessitem uma maior capacidade de reconstituição dos espaços utilizados, bem como aspectos sócio-culturais que dele derivam. A utilização de uma abordagem menos invasiva torna-se possível, com o auxilio de tecnologias adequadas, tais como sensoriamento remoto, sistemas de informação geográfica e sistemas georeferenciados cujas tecnologias permitem análises de áreas de interesse e garantem seu pleno desenvolvimento (Morais, 2006, 2007). 2. Do Ciclo do Ouro ao Desenvolvimento Industrial A história do Estado de Minas Gerais se desenvolve e está entrelaçada ao desenvolvimento da indústria minera. O próprio nome do Estado ¬¬¬¬¬– “Minas Gerais” – leva à intuição de grandes reservas dos vários minerais por sua extensão. O descobrimento de grandes quantidades de ouro no século XVIII foi o ponto de partida para o desenvolvimento da indústria mineira que até os primeiros anos do século XX seguiu sendo um de seus pontos de referência. Os processos migratórios e o desenvolvimento dos grandes jazidas determinaram os movimentos sociais e de trabalho durante o século XVIII. Ainda sob a dominação do Império Português, o estado foi considerado o mais importante na colônia brasileira e o período do ouro foram condicionantes e determinantes para mudar os processos sócio-econômicos a partir de seu crescimento, auge e decadência (1693 a 1770) e a considerável proto-indústria do ouro. (Barbosa, 1979; Costa, 1978). Durante o período que compreende o século XIX até o final do Império, em 1889, pode-se considerar a importância da expansão da indústria mineira na província de Minas Gerais. Nesse período, sua consolidação ocorre de maneira embrionária, sendo que, posteriormente se tem a criação das grandes empresas de siderurgia e mineração, além da expansão capitalista do país e da formação dos grandes centros industriais. O patrimônio mineiro, dessa maneira, pode ser considerado em suas mais diversas formas de manifestação, nas minas escavadas ao longo dos séculos, nas cidades desenvolvidas ao redor delas, nos métodos e técnicas de exploração dos minerais e também a própria cultura e educação. 4. Aspectos de Metodologia Arqueológica Uma proposta de estudo arqueológico e análise dos vestígios das principais empresas siderúrgicas mineiras toma em consideração as empresas/indústrias instaladas no século XIX como amostra da população existente. Tem-se alguns aspectos a serem considerados a partir da busca de “vestígios” das empresas que apresentem elevados graus de importância e de influencia para o desenvolvimento sócio-econômico, além das influências sociais e culturais nos ambientes em que se estabeleceram. Em relação às etapas consideradas para a análise arqueológica, tomou-se, inicialmente, em consideração, os seguintes aspectos, tais como, a determinação geográfica e política das indústrias e sua menção para a cultura material e industrial, além da importância histórico-patrimonial; a definição de fontes escritas – documentos cadastrais, registro, donos empresariais – comprovados segundo seus correspondentes arquivos e registros; a determinação dos limites geográfico-físicos de atuação da indústria com delimitação da área em que se realização os levantamentos planimétricos, prospecções, fotos aéreas e imagens de satélite; e a compilação bibliográfica das indústrias, a partir de publicações próprias e de terceiros que permitam construir uma narrativa histórica dos sítios arqueológicos a serem pesquisados, além da elaboração de oficinas populares e com órgãos gestores estatais que visem atingir as populações locais quanto à história oral e à memória social dos sítios analisados (Iturriza et al., s/d). Conforme os aspectos considerados para a execução de um levantamento de um estudo de arqueologia devem ser igualmente considerados os estágios básico, avaliação e manejo em que se tem etapas de levantamento, mensuração, avaliação e consideração dos elementos constituintes do conjunto espacial considerado, suas características e possibilidades de intervenções. Uma configuração metodológica complementar centrada na análise de situações reais em que se desenvolve o trabalho humano complementa os aportes acima e incluem os processos desenvolvidos pela sociologia industrial cujas etapas para uma metodologia de trabalho têm uma configuração específica. Para Gutiérrez Lloret (1994), pode-se, assim, (re)construir diversas possibilidades e características das construções e suas formas de utilização, bem como sua influência na construção social das pessoas segundo um estudo dos sistemas de crenças e promoção dos processos de inserção social nas empresas e sociedades. Dessa maneira, permite-se desenvolver um campo de estudos que possui “o método arqueológico como veículo para ‘entender a linguagem das coisas’, e uma afirmação de tanto se falar em abstrato das relações sociais que se esquece que o poder se exerce através das coisas e os espaços”. (Torró, 1994, pp. 49-50). Uma proposta metodológica deve buscar a centralidade de análise segundo as situações reais em que se desenvolve o trabalho humano e cuja complementação envolva as diversas aportações que incluem os processos e elementos de análise da arqueologia industrial que se torna uma disciplina transversal e permite uma riqueza e complexidade de estudos, a partir do ponto de observação do pesquisador. (Castillo, 1994, 1998). 5. Considerações Finais Dentre os importantes processos considerados para a formação das cidades brasileiras no século XX não se pode desconsiderar a formação cultural, a industrialização e seus desdobramentos compreendem parte de uma realidade que se faz crescente e presente durante todo o período recente da economia brasileira. Entretanto, o processo industrial, geralmente, é percebido sob olhares das estruturas macro e microeconômicas, sob as características da gestão e crescimento e desenvolvimento das empresas e também o caráter estrutural e tecnológico. Tais idéias buscam, desta forma, apresentar as bases conceituais e uma proposta aos processos metodológicos utilizados no desenvolvimento da investigação. A utilização de perspectivas qualitativas (através da análise de os documentos, entrevistas e busca de fontes de informação) pretende traduzir os esforços necessários para cumprirem-se os objetivos propostos. O emprego de uma perspectiva particular e peculiar que não rechaça a busca de idéias e propostas baseadas em estudos existentes. O que se pretende é proporcionar a aplicabilidade do estudo e confirmar os métodos utilizados para ampliar as construções interdisciplinares que tenham a arqueologia como aporte principal. As perspectivas de desenvolvimento compartilhado da arqueologia preventiva e da arqueologia industrial são percebidas sob a óptica transdisciplinar e permitem uma atuação complementar de conhecimentos. Possibilitam a construção de um trabalho de campo que envolve uma dinâmica de (re)construção e (re)definição de papéis. Ao localizar e identificar um objeto de estudo comum têm como pressupostos: reconstruir as relações sócio-empresariais e entender não somente o caráter econômico, mas igualmente o modo social e os processos de vida. 6. Referencias bibliográficas BARBOSA, Waldemar de A. História de Minas Gerais – vol. 1. Belo Horizonte: 3 vol., Ed. Comunicação, 1979. BERGERON, Louis. Arqueología Industrial, pasado e presente. Revista de Historia Industrial, n. 7, p.169-195, 1995. CASTILLO, Juan José. El taylorismo hoy: ¿Arqueología Industrial? In: El trabajo del sociólogo. Madrid: Complutense, pp. 59-76, 1994. CASTILLO, Juan José. ¿Ha habido en España organizadores de la producción? Entre dos Congresos de Ingeniería, 1919-1950. In: CASTILLO, J.J. & VILLENA, J.. Ergonomía. Conceptos y Métodos. Madrid: Complutense, pp. 31-66, 1998. COSTA, Iraci del Nero da. As populações das Minas Gerais no século XVIII: um estudo de demografia histórica. São Paulo: FEA/USP, 1978. GUTIÉRREZ LLORET, Sonia. La arqueología después de la Edad Media: El Registro Arqueológico en la Historia Moderna y Contemporánea, en Jornadas de Arqueología Valenciana, Alfaz del Pi, Alicante, 1994. ITURRIZA, D.; PUENTES, H.; MORALES MORALES, L. F.; DE ANGELIS, A. Descripción de la metodología para la puesta en valor turístico de 12 sitios arqueológicos en la provincia de Catamarca. Argentina: Escuela de Arqueología, Universidad Nacional de Catamarca, s/d. MORAIS, José Luiz de. Reflexões acerca da arqueologia preventiva. IN: IPHAN – Patrimônio: atualizando o debate. São Paulo: IPHAN, pp. 191-220, 2006. MORAIS, José Luiz de. Arqueologia da paisagem como instrumento de gestão no licenciamento ambiental de atividades portuárias. IN: Revista Eletrônica de Gestão de Negócios, eGesta, v. 3, n. 4, p. 97-115, out.-dez./2007. TICCIH. The International Committee for the Conservation of the Industrial Heritage. Documentation, 2003. Disponível em: . Acesso em: 15 jul. 2011. TORRÓ, Josep. Arqueología, trabajo y capital. Algunas consideraciones a propósito do II Congrés d´Arqueología Industrial do País Valencià. In: Revista Sociología del Trabajo. Nova Época, nº 22, pp. 47-62, 1994.

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