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sábado, 3 de dezembro de 2011
Ocupações Humanas Pré-Coloniais no Baixo Rio Tapajós, Amazônia Brasileira
Título do Trabalho (sessão oral): Ocupações Humanas Pré-Coloniais no Baixo Rio Tapajós, Amazônia Brasileira
Cristiane Maria Pires MARTINS¹
1- Programa de Pós-Graduação em Antropologia/ Universidade Federal do Pará – cpmartins23@yahoo.com.br
Resumo: Vestígios arqueológicos de grupos indígenas pré-coloniais que ocuparam o baixo curso do rio Tapajós, sudoeste do estado do Pará, vêm apontando para a existência de contatos culturais regionais com grupos do baixo Amazonas. Tais vestígios atestam ainda a grande diversidade de formas de ocupações do espaço dada a grande variabilidade de cultura material e de tipos de sítios distribuídos na várzea e em terra firme. Este trabalho apresenta alguns dos resultados formulados durante a Especialização em Arqueologia cursada na Universidade Federal do Pará, onde se investigou a indústria ceramista do sítio Alvorada, município de Itaituba, datado em 680+/-50 BP., e que objetivou estudar os contatos culturais regionais sugeridos por comparações estilísticas da cultura material. A cerâmica em questão pode ser inserida no Horizonte Inciso/Ponteado, amplamente distribuído no baixo Amazonas e Tapajós. Os resultados obtidos através da análise tecnotipológica da amostra e suas correlações com diversas vasilhas reconstituídas, sua dispersão na estratigrafia, além de artefatos como argila temperada e placas de cerâmica apontam para a produção local de recipientes com uso dos padrões estilísticos difundidos regionalmente, porém com significados culturais próprios.
Palavras-chave: Arqueologia, Baixo rio Tapajós, Horizonte Inciso/Ponteado, Análise tecnotipológica de cerâmica arqueológica.
Abstract
Keywords: lista de até seis termos, separados por vírgula, uma linha abaixo do Resumo ou o seu correspondente;
1. Introdução
Este estudo trata da indústria ceramista do sítio arqueológico Alvorada (do tipo lito-cerâmico com Terra Preta Arqueológica), localizado no baixo curso do rio Tapajós, município de Itaituba, na micro-região sudoeste do estado do Pará, contextualizando-o regionalmente com outras investigações arqueológicas realizadas no baixo Amazonas como uma tentativa de contribuição ao debate sobre a ocupação indígena da região amazônica. O estudo dos vestígios cerâmicos objetivou identificar as escolhas sociais na produção desses utensílios, seu uso e descarte, considerando o artefato como um todo, e como representante de práticas de sociabilidade que circularam no passado para assegurar um pertencimento coletivo e regional. A datação de 680+/-50 BP insere o sítio no período de adensamento populacional do primeiro milênio da era cristã identificado para a região amazônica por outras pesquisas do entorno (GOMES, 2008; SCHAAN, 2011).
Os dados apresentados nesta análise foram obtidos no âmbito do Programa de Arqueologia (Programa de Identificação e Salvamento do Patrimônio Arqueológico BR-163 (Guarantã do Norte/Entroncamento BR-230) e BR-230 (Miritituba/Rurópolis) executado pelo Núcleo de Pesquisa e Ensino de Arqueologia da Universidade Federal do Pará (NPEA/UFPA), sob coordenação da professora Dra. Denise Pahl Schaan (SCHAAN & MARTINS, 2009).
2. Objetivo
O presente estudo objetiva caracterizar a indústria ceramista do sítio arqueológico Alvorada.
3. Materiais e Métodos
A análise tecnotipológica da cerâmica foi orientada para a caracterização estilística do espólio estudado através da identificação dos seus aspectos tecnológicos, morfológicos e decorativos, sendo contextualizados na estratigrafia do sítio e seu contexto de descarte.
A amostra analisada é composta por 4.168 fragmentos de diversos artefatos, além de 1733 micro-fragmentos (aqueles com até 3cm de tamanho). Fragmentos de bordas, bases, placas de cerâmica utilizadas para produção de vasilhames, pelotas de argila, fragmentos de pratos e de paredes foram analisados quanto às formas, técnicas de manufatura, queima, antiplásticos, e tipos de decoração plástica e pintada, para a caracterização do estilo da cerâmica. Realizaram-se reconstituições aproximadas de formas de vasilhames, a partir de bordas e bases, que foram confrontadas com modelos etnográficos para se inferir sobre as possíveis funções e usos dos recipientes.
4. Resultados
O material cerâmico se constituiu em maioria por fragmentos de cerâmica utilitária, no entanto alguns artefatos possuem confecção bastante elaborada, tendo como principal marcador a decoração pintada e plástica empregada em formas como pratos bem elaborados com flanges labiais, vaso do tipo gargalo e garrafas com decoração interna e externa. Com relação aos padrões decorativos que situam essa indústria ceramista no Horizonte Inciso/Ponteado, são indicadores os ponteados e/ou incisões diversas, filetes modelados aplicados, pintura vermelha e preta sobre engobo branco, apliques zoomorfos e intenso emprego de cauixi como antiplástico.
Foram reconstituídas 16 formas de vasilhas, dentre as quais ocorreram recipientes pequenos de uso individual, vasilhas fundas e rasas usadas para o processamento de alimentos sem aquecimento, além das placas de cerâmica utilizadas como suporte para confecção de outras vasilhas, e recipientes para cozinhar. Fazendo uma correspondência entre os tipos de vasilhas distribuídas pelo espaço do sítio, observamos uma maior variabilidade de formas onde ocorre a maior espessura de TPA do sítio e maior quantidade de material fragmentado em área que foi utilizada como lixeira. No geral, as formas não variaram significativamente em relação aos outros espólios de sítios já estudados no entorno, contudo o emprego de padrões decorativos pintados sem similares em outros sítios do baixo Amazonas, além dos artefatos associados a produção local de cerâmica (placas e pelotas de argila) sugere a possibilidade de inovações locais quanto à simbologia impressa na cultura material.
5. Discussões
A cerâmica analisada apresentou padrões estilísticos típicos do Horizonte Inciso/Ponteado, com motivos decorativos similares aos espólios encontrados em diversos sítios arqueológicos da região do baixo Amazonas. Contudo, algumas especificidades de decorações plásticas e, principalmente, pintadas, e motivos iconográficos impressos sob os vasilhames cerâmicos parecem sugerir outros usos, funções e simbologias da cultura material.
Através do estudo da indústria ceramista do sítio Alvorada, que integra um modo de fazer cerâmica amplamente difundido, pode-se inferir sobre a existência de interações culturais regionais no baixo Amazonas e baixo Tapajós no primeiro milênio da era cristã, materializadas nos objetos encontrados em contextos arqueológicos geograficamente distantes entre si. Com base nesta ideia propõe-se que contatos regionais e redes de trocas de ideias respondam pelo estilo compartilhado de se produzir recipientes de barro (ainda que tenham se adotado especificidades locais), como também pelas similaridades dos contextos de uso do espaço, tais como presença de TPA, ocorrência de artefatos de pedra polida e suas oficinas de polimento.
Essas investigações estão lançando novos dados sobre a ocupação indígena da região amazônica e sua continuidade poderá melhor esclarecer sobre o modo de vida pré-colonial no primeiro milênio da era cristã.
6. Referências Bibliográficas
GOMES, Denise C. 2008. Cotidiano e poder na Amazônia pré-colonial. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo/Fapesp, 2008.
HILBERT, Peter Paul. 1955. A Cerâmica arqueológica da região de Oriximiná. Publicações do Instituto de Antropologia e Etnologia do Pará, pp.1-76.
_____ & HILBERT, Klaus. 1980. Resultados preliminares da pesquisa arqueológica nos rios Nhamundá e Trombetas, Baixo Amazonas. In: Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, vol. 75, pp. 1-15.
SCHAAN, Denise P. & MARTINS, Cristiane M. P. 2009. Programa de Identificação e Salvamento do Patrimônio Arqueológico na BR-163 (Guarantã do Norte/Entroncamento BR-230) e BR-230 (Miritituba/Rurópolis). Relatório de Salvamento Arqueológico na BR-230: Trecho Km30 a Rurópolis. (não publicado).
SCHAAN, Denise P. 2011. Sacred geographies of ancient Amazonia. Cap. III – Ponds, lakes and feasts: the geography of anthropogenic soils. Walnut Creek, Left Coast Press, (no prelo).
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