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sábado, 3 de dezembro de 2011
A FAZENDA CAPÃO DO BISPO E OS ENGENHOS DO CICLO DA CANA DE AÇUCAR NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO , RJ. Autores: Vanessa Maria da Costa R. FRANCISCO (1), Viviane Maria da Costa R FRANCISCO (2), Letícia Maria Rodrigues VERDADE (3)
A FAZENDA CAPÃO DO BISPO E OS ENGENHOS DO CICLO DA CANA DE AÇUCAR NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO , RJ.
Autores: Vanessa Maria da Costa R. FRANCISCO (1), Viviane Maria da Costa R FRANCISCO (2), Letícia Maria Rodrigues VERDADE (3)
(1)Centro Brasileiro de Arqueologia (CBA)-vanessapaleonto@hotmail.com
(2)Centro Brasileiro de Arqueologia(CBA)- vivianefrancisco@oi.com.br
(3) Colégio Coração de Maria-Meier.
Palavras-chave - cana de açúcar, Capão do Bispo, engenhos, história, patrimônio histórico.
Resumo:
O trabalho apresenta o resultado de pesquisas bibliográficas e de campo efetuados pela equipe de pesquisa do Centro Brasileiro de Arqueologia. Durante a fase colonial do Brasil, o Rio de Janeiro foi um centro produtor de açúcar, que era exportado para a Europa pelo governo. Os canaviais se estendiam pela Zona Norte e Oeste do atual município do Rio de Janeiro. Remontam a essa época os nomes de diversos bairros como Engenho da Rainha, Engenho Novo, Engenho de Dentro, Engenho Velho. No entanto, o que restou desse longo período da história econômica do Rio de Janeiro, foi apenas o edifício de uma fazenda denominada Capão do Bispo, localizada na Avenida Don Helder Câmara, em Del Castilho, que permanece de pé até os dias atuais. Apesar da importância desse patrimônio e de ser tombado pelo Patrimônio Histórico, na prática pouco tem sido feito pelo poder público no sentido de preservar essa relíquia de um importante período da História do Rio de Janeiro. Certamente a falta de políticas públicas de preservação do patrimônio histórico e pré-histórico responde por essa situação. Na verdade não basta tombar, é necessário preservar.
Abstract: The paper presents the results of literature searches and field work carried out by the research team of Brazilian Archaeology Center. During the colonial period of Brazil, Rio de Janeiro was a center for production of sugar which was exported to Europe by the government. The sugar cane fields outstretched by the North and West of the current city of Rio de Janeiro. Go back to that time the names of diverse neighborhoods like Engenho da Rainha, Engenho Novo, Engenho de Dentro, Engenho Velho, which, however is what remains of this long period of economic history of Rio de Janeiro. Only the building of a farm called the Capão do Bispo, located at Avenida Don Helder Camara, in Del Castilho, remains standing until the present day. Despite the importance of heritage and being listed by Historical Patrimony, in practice little has been done by the government to preserve this relic of an important period in the history of Rio de Janeiro. Certainly the lack of public policies for preservation of historic and prehistoric heritages answers for this situation. Actually not just being listed, it is necessary to preserve.
Introdução
Antes de ter sido um país identificado com o café, o Brasil marcou presença na economia mundial graças a produção de açúcar. Palavras como "melaço" e "mascavo" ou "mascavado", mesmo que transmudadas em formas anglicizadas (molasses, muscovado), logo se tornaram correntes no vocabulário do comércio internacional.
Entende-se por ciclo do açúcar a fase da história do Brasil marcada pela produção de açúcar nos engenhos nordestinos. Começou pouco depois da descoberta e acarretou profundas conseqüências sociológicas e culturais, até o século XVIII. As formas de vida social, política e cultural decorrentes da economia açucareira no Nordeste constituíram matéria de numerosos estudos.
Há controvérsias sobre os primeiros europeus a chegarem na Baia da Guanabara. Pode ter sido a expedição que em 1501 saiu de Lisboa e teria penetrado a ria de Guanabara no primeiro dia de janeiro de 1502, indo depois até Angra dos Reis. Poderia ter sido a expedição de 1530 que teria chegado em primeiro de janeiro de 1531(Lamego,1948). O fato é que o nome Rio de Janeiro se deve a data de descoberta da ria (desembocadura de rio) em janeiro.
A ameaça representada pela chegada dos franceses em 1555 obrigou Portugal a dar atenção à região. Em 1° de março de 1565 foi fundada São Sebastião do Rio de Janeiro por Estácio de Sá. O Rio começou a evoluir de verdade com a chegada dos Jesuítas. Foram criados engenhos no interior e no entorno da baia da Guanabara: Engenho Velho, Engenho Novo, Engenho da Rainha, etc. (Lamego, 1950)
O engenho mais antigo pertencia a Salvador C de Sá e ficava na Tijuca, seguido do engenho da Lagoa Rodrigo de Freitas de A Salem. A indústria açucareira crescia com a ajuda do governo. Os jesuítas que tinham o Engenho Velho no Flamengo temiam os corsários e por isso fundaram o Engenho Novo mais distante do litoral. A Sesmaria da Ordem englobava o Engenho Velho, Andaraí, São Cristovão indo até o rio Iguaçu. No início do século XVII a lavoura da cana de açúcar generaliza-se, aumentando a produção de açúcar, melado e cachaça.
A maior usina foi de Santa Cruz pertencente aos Jesuítas. A cana de açúcar foi levando o povoamento aos locais mais distantes da cidade do Rio de Janeiro. A fortuna dos senhores de engenho com o trabalho escravo se estendeu ao Norte do Estado (Campos) o que abriu caminho à entrada do café no entorno da Baia de Guanabara. Existiam 24 engenhos de açúcar e aguardente produzindo mais de 200 mil sacos de açúcar. Em 1792 o bispo José Joaquim Justiniano, dono do engenho do Capão já produzia a coffea arabica junto com a cana de açúcar. A produção de café crescia enquanto entrava em declínio a produção de açúcar.( Lamego, 1948).
Origens
Durante a Idade Média, as poucas quantidades de açúcar consumidas na Europa procediam do Oriente, de onde é nativa a cana-de-açúcar, sendo o comércio desse artigo monopolizado por Veneza. Em meados do século XV a cana foi introduzida pelos portugueses na ilha da Madeira e pelos espanhóis nas Canárias. Seu cultivo prosperou tanto que o açúcar das novas possessões ibéricas passou a chegar na Europa a preços muito baixos, popularizando o consumo de um produto que até então se limitara às moradias dos ricos, aos hospitais e aos boticários, que o utilizavam apenas como base de preparados farmacêuticos.
Estimulados pelos bons frutos colhidos com a concorrência a Veneza, os portugueses trouxeram para o Brasil, logo depois da descoberta, as primeiras mudas de cana. Da capitania da qual se originaria São Paulo, a de São Vicente, por onde a planta entrou na colônia e onde se estabeleceram os primitivos engenhos, a cana-de-açúcar se irradiou sem demora por todo o litoral brasileiro.
Implantação dos engenhos
O primeiro engenho de açúcar de que se tem notícia no Brasil foi instalado em São Paulo por volta de 1532. Três anos mais tarde já havia alguns outros funcionando em Pernambuco, onde iriam assumir extraordinária importância. Depois de 1550 começou a produção de açúcar na Bahia, cujos primeiros engenhos foram destruídos pelos índios. Na ilha de Itamaracá PE, em 1565, a produção já era florescente, e na década seguinte foram instalados os primeiros engenhos de Alagoas. Nessa mesma época, grande parte das várzeas e morros pouco a pouco ocupados pela cidade do Rio de Janeiro constituía um vastíssimo canavial que alimentava no mínimo 12 grandes engenhos.
No final do século XVI, o Brasil já se convertera no maior produtor e fornecedor mundial de açúcar, com um artigo de melhor qualidade que o procedente da Índia e uma produção anual estimada em seis mil toneladas, cerca de noventa por cento das quais eram exportadas para Portugal e distribuídas na Europa.
A princípio, as superfícies cultivadas com cana distribuíam-se em quinhões chamados "partidos", ora obtidos por compra, ora por ocupação desordenada. Plantavam-se ainda as "terras de sobejo", ou as que eram acrescentadas por fraude, nas medições, às áreas legalmente vendidas. Além dos escravos, com o tempo também lavradores livres passaram a trabalhar em terras que pertenciam aos engenhos. Alguns mantinham seus canaviais em áreas arrendadas; outros plantavam não só cana, como ainda pequenas roças de subsistência, constituídas principalmente por milho, mandioca e feijão. Em geral, os lavradores livres serviam-se dos engenhos a que estavam agregados para fazer açúcar, em troca de uma parte da produção. Todos eles formavam, na verdade, uma clientela de importância vital, pois só com o concurso das lavouras subsidiárias ou dependentes muitos engenhos podiam manter-se em atividade ininterrupta durante os meses da safra.
Em sua grande maioria, os que se dedicavam às lavouras de subsistência vegetavam à sombra da tolerância dos senhores de engenho, que desse modo contavam com recursos para o abastecimento de suas próprias famílias. Sobre os vastos conjuntos de agregados os senhores exerciam uma autoridade que variava conforme o sistema de trabalho ou a forma de ocupação da terra. A condição do pessoal dos engenhos, portanto, sujeitava-se a variações jurídicas, econômicas e sociais, escalonadas desde a dos negros escravos até a dos lavradores dos "partidos", que moíam "cana livre". Entre os dois extremos, situavam-se os lavradores livres como pessoas, contudo dependentes da propriedade senhorial das terras, que eram obrigados à moenda e cujas colheitas passaram significativamente a ser rotuladas como "cana cativa".
Aspectos sociológicos: a casa-grande. Com seu complexo esquema de funcionamento, o engenho de açúcar foi a forma de exploração agrária que melhor assumiu, no Brasil colonial, as características básicas da grande lavoura. Isso porque, além dos trabalhos de cultivo do solo, o engenho requeria toda uma série de operações exaustivas, com aparelhamento de obtenção difícil e mão-de-obra abundante.
Com seus vários prédios para moradia e instalações fabris -- a casa da moenda, a das fornalhas, a dos cobres e a de purgar, além de galpões para estocar o produto --, o engenho constituía um pequeno aglomerado humano: um núcleo de população.
A casa-grande, residência do senhor de engenho, assobradada ou térrea e sempre bem imponente, constituía o centro de irradiação de toda a atividade econômica e social da propriedade. A casa-grande se completava com a capela, onde as pessoas da comunidade, aos domingos e dias santificados, reuniam-se para as cerimônias religiosas. Próximo se erguia a senzala, habitação dos escravos, classificados como "peças", que se contavam às centenas nos maiores engenhos. Os rios, vias de escoamento do açúcar, eram também com freqüência as únicas estradas de acesso: por eles vinham as toras que alimentavam as fornalhas do engenho e os gêneros e artigos manufaturados adquiridos alhures, como tecidos e louças, ferramentas e pregos, papel e tinta, barris de vinho ou de azeite. A casa-grande, a senzala, a capela e as casas destinadas ao fabrico do açúcar definiam o quadrilátero que dava a um típico engenho sua conformação mais comum. Outras construções, em número variável, podiam servir de residência ao capelão, ao mestre de açúcar, aos feitores e aos poucos trabalhadores livres que se ligavam às atividades do engenho por seus ofícios, como barqueiros, carpinteiros, pedreiros, carreiros ou calafates.
A área de Inhaúma, na Zona Norte do Rio, foi a aldeia dos tamoios que, transferida aos jesuítas pelo governador Estácio de Sá, no Século XVI, adotou esta denominação indígena, que em tupi significa “argila de prato” ou “corrente escura” ou barrenta. Quando da expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal, Inhaúma já se convertera em um dos principais entrepostos do Rio de Janeiro, já que lá eram recebidos os produtos agropecuários trazidos pelas canoas que cruzavam os rios Pavuna e Meriti e as águas da Baía da Guanabara. O tempo foi passando e essas atividades foram se concentrando em Engenho da Pedra, Engenho da Rainha, Quinta de Santana e Fazenda do Capão do Bispo. O coronel Antônio Joaquim de Souza Pereira Botafogo, proprietário do Engenho da Rainha, era o incentivador do comércio na região e da venda de terras em lotes a prazo. Foi também quem doou os terrenos para a construção do cemitério, a abertura de várias ruas e até a praça que ainda hoje leva o seu nome.
Capão do Bispo é uma das mais antigas propriedades rurais do Estado do Rio de Janeiro e sua casa, sede da fazenda, é o que sobrou da sesmaria doada por Estácio de Sá aos Jesuítas e a concessão, confirmada pela Corte de Lisboa em 10 de julho de 1565. Abrangia as freguesias de Inhaúma, Engenho Velho, Engenho Novo e São Cristóvão Com uma área de duas léguas de testada e duas de fundo (13.200 m X 13.200 m) começava no Vale do Catumbi, junto ao Rio dos Coqueiros, antigamente chamado Iguassu e hoje Rio Comprido, servia como divisa natural desde a nascente até desaguar no mangue da Cidade Nova, seguindo pelo litoral, atravessando a bica dos Marinheiro, São Cristóvão e Benfica até a Tapera de Inhaúma, rumo noroeste para o sertão, rumo sudoeste nas áreas férteis e saudáveis dos terrenos do Engenho Velho, Andaraí e Engenho Novo entre outros. Em 1684 o Padre Custódio Coelho era o responsável pela freguesia de Inhaúma, que a passou para o Vigário Geral Clemente Martins de Mattos. A área era limitada pelos morros do Pedregulho e do Telégrafo ao sul. Pela Serra da Misericórdia e litoral do canal de Benfica, os atuais bairros do Engenho Novo, Méier e Inhaúma, ao norte. A fazenda ficava na planície suburbana com diversos vales ligeiramente acidentados por baixas colinas, próximos ao Rio Jacaré, Faria e Timbó, foi confiscada dos Jesuítas em 1759, passa à Coroa e leiloada a partir de 1761. Um dos compradores foi o bispo D. José Joaquim Justiniano Mascarenhas de Castelo Branco, onde ergueu a casa grande da fazenda num capão (porção de mato isolado no meio do campo) sobre um outeiro de 20 m de altura.(apud Lamego, 1946a, 1946b, 1948, 1950).passou ao seu sobrinho Jacinto Mascarenhas Furtado de Mendonça. De 1862 a 1868 a casa grande foi aforada por escritura a Joaquim José Palhares Malafaia e a Domingos José de Abreu. Em 1914 foi vendida a Francisca Carolina de Mendonça Ziéze e depois a Joaquim Alves Maurício de Oliveira, dono até 1929, passando à Clara Ziéze de Oliveira. Há 18 de setembro de 1937 passou para Simão Daim e em 1947 estava em nome de Jacob Armin Frey. Esses levantamentos foram feitos por Noronha Santos.(Lamego, 1948). Em 30 de agosto de 1947 foi tombada pelo IPHAN, com Florentino M. Guimarães responsável pelo canteiro de obras e coordenando o levantamento arquitetônico. Desapropriada em 1961 passando ao governo do Estado da Guanabara, sendo a emissão de posse dada em 1969. Nas décadas de 50 e 60 foi invadida por 30 famílias que fizeram do patrimônio histórico, uma cabeça-de-porco chegando a estar ameaçada de desabar. (JB, Domingo, 16/01/66- primeiro caderno). Edgard Jacinto da Silva, arquiteto do IPHAN fez um trabalho de restauração na sede que durou dois anos, de 1973 até 1975, custando NCr$ 195.000,00 e instalado um Museu Rural e o Centro de Estudos Arqueológicos, o Instituto de Arqueologia Brasileira- IAB.
O bispo D.José Joaquim morreu em 28 de janeiro de 1805 quando a propriedade
FOTO DO CAPÃO DO BISPO AUTORIA B. RODRIGUES
Conclusão
Neste ano de 2011, centenário do IAB e do CBA, além dos 50 anos da lei de 1961 de proteção aos sítios arqueológicos, noticias de que o Estado do Rio de Janeiro solicitou a devolução do imóvel preocupou a comunidade de arqueólogos.
Não se sabe ao certo o que governo estadual pretende fazer, parecendo ser ainda incerto o futuro do Capão do Bispo, na avenida D. Helder Câmara ( ex-Suburbana) em Del Castlho.
A equipe do CBA que realizou essa pesquisa é de opinião inteiramente favorável a sua preservação como patrimônio
histórico, representante do apogeu ciclo da cana de açucar no Rio de Janeiro.
BIbliografia
Lamego, A.R. 1946a- O Homem e a Restinga,Rio de Janeiro, IBGE
Lamego, A.R. 1946b - O Homem e a Baixada , Rio de Janeiro, IBGE
Lamego, A.R. 1948- O Homem e a Guanabara, Rio de Janeiro, IBGE
Lamego, A.R. 1950- O Homem e a Serra, Rio de Janeiro, IBGE
Seixas, Agostinho- s/d - A História dos Bairros da XII RA, Rio de Janeiro.
http://revistainhauma.com.br/cidadedormitorio.html
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