ANAIS DO I ENCONTRO LATINO AMERICANO DE ARQUEOLOGIA
As populações Pré-históricas da Amazônia
Dra. Maura Imazio da
Silveira
Inicialmente,
apresentaremos em linhas gerais o Museu Goeldi, a natureza e os objetivos da
arqueologia e alguns exemplos dos diferentes tipos de sítios que são
encontrados na Amazônia.
Posteriormente, com base nos dados
arqueológicos, em uma perspectiva cronológica e
econômica, será apresentado um panorama breve sobre a ocupação pré-histórica da
Amazônia, alguns exemplos de vestígios encontrados durante as pesquisas do
Museu e para finalizar as contribuições da arqueologia para a região
Convém ressaltar que o MPEG
foi a única instituição na
Amazônia brasileira, durante décadas, a ter um
departamento de Ciências Humanas com pesquisas nas áreas de antropologia,
etnologia, arqueologia, lingüística, sociologia e história.
O Museu Goeldi realiza
pesquisas arqueológicas na Amazônia desde a segunda metade do século XIX sendo referência
para as pesquisas arqueológicas realizadas nesta região.
Estudo
do passado humano a partir dos vestígios remanescentes
▪
Utiliza fontes de estudo primárias: documentos naturais, culturais e
▪
Fontes de estudo secundárias:
publicações, documentos, informações, etc
▪
É necessário interação com
diversas disciplinas das ciências biológicas, humanas e exatas
A produção do conhecimento
sobre a pré história amazônica inicia com os viajantes
naturalistas tais como Hart, Ferreira Penna, Barbosa Rodrigues, Frederico
Barata, Aureliano Lima Guedes, Coudreau,entre outros.
Nessa época foram
produzidos relatos detalhados e aquisição de peças que iriam compor os acervos dos museus.
Com a fundação do
MPEG começam a ser formadas as coleções (atualmente, o material arqueológico proveniente dessas coleções faz parte da reserva técnica
Mário Simões na área de arqueologia).
Entre 60-70 é criada a área de arqueologia e as pesquisas se
intensificam com o desenvolvimento do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas da Bacia Amazônica - PRONAPABA.
Coordenado por Betty Meggers & Clifford Evans, do Smithsoniam Institute, o PRONAPABA foi dividido em diversas áreas. A equipe do Goeldi foi
chefiada pelo pesquisador Mario Simões. Outros arqueólogos como Ondemar Dias, Eurico Miller e Celso Perota, foram convidados a trabalhar
também no desenvolvimento do referido programa.
As
pesquisas realizadas, utilizaram como base, principalmente, a cerâmica
arqueológica, estabelecendo Tradições, subtradições e fases.A Tradição é usada
para designar um grupo de elementos ou técnicas com grande amplitude espacial e
temporal.
Uma Tradição comporta
várias fases e mesmo subtradições.
A Fase é
mais restrita, indica um conjunto de elementos culturais associados entre si e
relacionados conforme a localidade (espaço)
ou o
tempo.
A partir
desses dados foi elaborado um panorama das populações pré-históricas que
habitaram a Amazônia
Reconstituição
do povoamento da Amazônia pré-histórica
(Mario Ferreira Simões 1983)
•Coletores
pescadores ceramistas (6.000-200AC)
Tradição Mina (fase Mina –
sambaquis litorâneos/PA e MA, fase Castália e Macapá -sambaquis
fluviais, Uruá – sambaquis de gastrópodes fluviais). Relacionados a Fase Alaka (litoral Guianas
Agricultores
incipientes (1.100-200AC)
Tradição Hachurada zonada (fase Ananatuba no Marajó; fase Jauari – sambaqui fluvial no
baixo amazonas/lago grande de Curuá). Inclui ainda Fases no
Equador (Yasuni e Pastaza) e no Peru (Tutischcainyo e Waira-Jirca).
Horticultores de Floresta Tropical (0 - 1.600AD)
ØTradição Borda Incisa
(fase Mangueiras/Marajó e Mexiana; Manacapuru e Caimbé/médio Amazonas, associados a subtradição Guarita/Tradição
Policroma). Na bacia do Orinoco (fases Nericagua, complexos Cotua e Los Caros)
ØTradição Incisa Ponteada de 900 AD até tempos históricos
localização geográfica -
Calha do Amazonas e alguns tributários. Cultura Santarém/rio
Tapajós, complexo Konduri/ rios Nhamundá Trombetas, Mazagão/Amapá; Paredão/baixo rio
Negro; Sanabani /lago de Silves; Urucará e Jatapú/baixo rio Uatumã; Diauarum e Ipavu/alto Xingu,Tauá/Tocantins.
ØFases flutuantes ou independentes (grande quantidade)
Agricultores Subandinos (100-1.300 AD)
ØTradição Policroma
(fase Marajoara/Marajó, Subtradição Guarita na parte ocidental da bacia Amazônica – fases Itacoatiara,
Guarita, Tefé, Apuaú,Manauacá, Samambaia, Silves, São
Joaquim, Pirapitinga, Marmelos e Pupunhas).
Fases: Napo (Equador) e Caimito
(Peru).
Nos anos 80 começa uma nova fase para a
arqueologia da
Amazônia.
Pesquisadores
do museu iniciam projetos acadêmicos para mestrado e doutorado. Anna Roosevelt realiza pesquisas em Marajó, Santarém
e Monte Alegre (PA)-projeto baixo Amazonas- e apresenta os
primeiros resultados
Começam os grandes projetos
empresariais (hidrelétricas, mineração, rodovias, etc) e os financiamentos para os trabalhos de
levantamento e salvamento arqueológico. Na década de 90 outros pesquisadores
também começam a trabalhar na Amazônia brasileira (Eduardo
Neves, Denise Gomes, entre outros).
O que sabemos até o momento
Panorama atual do
conhecimento (com base em critérios econômicos e croos dados aqui apresentados tem por base as pesquisas arqueológicas realizadas pelo Museu Goeldinológicos)
Paleoíndio/ caçadores-coletores (Pleistoceno
e início do Holoceno/ 12.000–1.000 anos AC)sítios caçadores-coletores, geralmente em cavernas e
abrigos. Maior partes dos vestígios é composta por artefatos lascados (pontas
de flechas, raspadores, furadores, entre outros, confeccionados, primeiramente
em quartzo e posteriormente em sílex/calcedônia). Nesse período verificamos a presença de uma economia
ampla e diversificada adaptada a floresta tropical. Foram observados diversos modos de utilização dos
recursos naturais, variando conforme às condições de cada região ocupada.Registramos esses sítios no
Pará - em Carajás e Monte Alegre; Amapá, Amazonas, Roraima e Rondônia..
Arcaico/caçadores-coletores-pescadores e também os caçadores-coletores mais recentes (Holoceno/
6.000-200AC)
Os tipos de sítios variam:
sítios em grutas e abrigos, sambaquis (litorâneos e fluviais) e sítios cerâmicos habitação
ou acampamentos.Tanto nos sambaquis como nos sítios cerâmicos observamos, em alguns casos, a
presença de TPA.
O material arqueológico
geralmente é composto por artefatos confeccionados em pedra lascada, polida e
também em conchas e ossos, além de restos orgânicos.
Neste período, as mudanças significativas do
ambiente proporcionaram maior disponibilidade de recursos naturais (formação e
expansão dos mangues, mudança no regime dos rios/temporários-perene, formação de grandes áreas de floretas). Puderam ser
verificadas estratégias adaptativas ainda mais diversificadas,
caracterizando-se pela exploração de recursos aquáticos (pesca e coleta), caça de pequenos animais,
além de coleta, manejo e
domesticação de várias plantas.
Formativo (Holoceno /1.100AC -1.600AD)
Os sítios são cerâmicos, a céu aberto,
habitação ou acampamentos, presença em alguns de TPA. Na ilha de Marajó existem
os Tesos (grandes aterros artificiais).
Caracterizado por práticas agrícolas ou economia de
subsistência eficiente, ocupações edentárias e aumento da densidade
demográfica.
Segundo os resultados das
pesquisas realizadas por Anna Roosevelt a Amazônia foi um centro de inovação
cultural durante o arcaico e o formativo. Foi no sambaqui de Taperinha, que coletamos a cerâmica mais antiga das
Américas (8.000anos AP).
ILHA DE MARAJÓ
•Grupos
ceramistas há 3.000 anos
•Fases Formiga, Ananatuba, Magueiras e Marajoara
•Sociedades
Complexas:
Cultura
Marajoara – de 400 a 1300 d.C.
Caracterizou-se por:
ØManejo
hidráulico e exploração intensiva de recursos aquáticos;
ØConstrução
de tesos de até 10m de altura;
ØElaborado
sistema ritualístico-religioso, culto
aos antepassados, enterro em urnas.
LITORAL DO PARÁ
Região do Salgado
•Ocupação
antiga: há 6.000 anos AP
•Sambaquis:
populações que sobreviviam de maneira sedentária explorando recursos aquáticos
Fases: Mina,Uruá,Tucumã,Areão.
•Sítios
cerâmicos - Sítios de grupos horticultores antigos
(há 2000 anos AP)
•Sítios
históricos (edificações, igrejas, fornos/caieiras, etc)
•Sítios
submersos
SUL
DO PARÁ
TradiçãoTupiguarani - 300 a 1500 AD
Fases Itacaiúnas, Tauari, Tucuruí
MARANHÃO
•:
como no litoral do Pará, bastante
destruídos
•A
ocupação litorânea é mais recente do que no Pará,
1500-1300 anos AP
•Estearias
ou palafitas (aldeias lacustres) do Lago Cajari (570DC)-baixada maranhense
•Há
também sítios históricos
•Registros
rupestresSambaquis
O Museu Goeldi é a
única instituição na Amazônia brasileira com laboratórios devidamente equipados para as pesquisas
arqueológicas e com corpo técnico científico de profissionais
qualificados.Projetos desenvolvidos em conjunto com
as pesquisas arqueológicas tem um papel
relevante, contribuindo não só para divulgação do conhecimento sobre o passado
como para a proteção do patrimônio
PANORAMA
ATUAL
Poucos arqueólogos
atuando/morando na Amazônia- Grande demanda de
projetos de contrato
NECESSIDADE
Formação de. novos profissionais
para atuar na Amazônia
Em resumo:
Através desta pequena
mostra que nos apresentou uma grande quantidade de vestígios arqueológicos
podemos constatar que a Amazônia foi densamente povoada.
Investindo em pesquisas,
poderemos aprender muito estudando os registros arqueológicos que nos revelam
formas criativas e satisfatórias de manejo do ambiente
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