A pequena Vista Alegre do Alto (SP), de sete mil habitantes, a 100 quilômetros de Ribeirão Preto (SP), é um daqueles lugares em que todo mundo ainda se conhece. E nem sempre pelo nome. Quem chega perguntando do Gercino recebe, como resposta, um balanço negativo com a cabeça e um “ah, moço, sei não”. Mas vai falar no Sabela. Aí, a coisa muda.
O carpinteiro, de 58 anos, é uma das figuras mais conhecidas do município. O motivo é simples: além de estar sempre de bem com a vida, distribuindo sorrisos, ele mantém, com arte, os costumes regionais. As esculturas, moldadas a partir de restos de madeira, que ele aproveita da própria profissão, ganha de fábricas de móveis ou recolhe na zona rural, ajudam a preservar a memória das gerações que construíram a história do interior paulista, por meio do trabalho no campo e da religiosidade.
A casa simples, que ele divide com a esposa, Rita, a maior incentivadora do trabalho, expõe um cavalo na parede da sala e um São Cristóvão, de um metro de altura, que pode ser apreciado numa mesa do quintal. Mas, há pouco tempo, a garagem era toda ocupada. Sabela calcula que já tenha vendido mais de mil peças, boa parte para admiradores em Pirangi, município próximo a Vista Alegre. “Tinha muita coisa. Uma das peças que eu mais gostava era um tamanduá em tamanho natural. O pessoal via o resultado, gostava e eu ia vendendo. Até que eu dia, percebi que havia vendido quase tudo”.
Origens
A ligação com Pirangi é antiga. Foi lá que Sabela nasceu. Ainda na infância, se mudou para um sítio em Vista Alegre do Alto, onde morou até os 20 anos. Aprendeu a carpir, plantar e colher. “Cuidava de animais e arrancava feijão e mamona”. E já mostrava os dotes artísticos. Argila e cipó foram as matérias-primas para as primeiras esculturas. “Com 12 anos, comecei a fazer na escola. Com o tempo, as técnicas foram evoluindo”.
Quando saiu para a cidade, trabalhou como soldador, torneiro mecânico, eletricista. Tantos empregos que não se lembra de todos. Foi da madeira, porém, que ele tirou o ofício definitivo. A carpintaria permitiu aliar o sustento da família com a proximidade do material que precisava para esculpir. “Infelizmente, no nosso país, é difícil viver só da arte”.